É muito natural que, em nossos primeiros passos na seara do bem, sintamo-nos decepcionados com a indiferença demonstrada por alguns indivíduos que nos rodeiam. Em nosso íntimo, guardamos secretamente o desejo de que o bem que praticamos seja reconhecido. Isso é algo perfeitamente compreensível.
Contudo, para que o nosso ânimo não fique à mercê da gratidão dos outros, é necessário que compreendamos o que é, verdadeiramente, agir com bondade.
Para que não nos entristeçamos com a incompreensão alheia, precisamos eliminar qualquer expectativa de reconhecimento pelas nossas ações. Esse é um trabalho psicológico delicado que exige um certo empenho.
É preciso que nos desliguemos daquilo que fizemos, por mais nobre que tenha sido a nossa ação.
Se não nos consideramos diferentes das outras pessoas porque fazemos o bem, quando a adversidade aparece, nós a enfrentamos sem reclames ou revoltas.
Se, no entanto, estamos constantemente a espera de recompensas pelo que julgamos ter feito de bom, cada vez que surge um problema, pensamos: "Eu faço tudo direito, isso não deveria estar acontecendo comigo".
Na prática, isto significa potencializar a dor, isto é, multiplicá-la pelo pseudo-valor que atribuímos a nós mesmos.
Não é exagero afirmar que, quanto maior for a pretensão de sermos bem tratados pelos nossos "méritos", maiores serão as frustrações, decepções e desilusões.
O estrago da queda é proporcional à altura em que acreditamos estar.
Se, ao contrário, não nos considerarmos merecedores de homenagens, reconhecimentos e elogios, estaremos bem mais preparados para tolerar e compreender a ingratidão, a indiferença e a desonestidade.
Não que mereçamos o mal em decorrência do que fazemos de bom. Não é isso. Simplesmente não nos afetaremos tanto com a maldade, ao ponto de pensarmos que o bem não vale a pena, se apenas formos bondosos pela bondade, honestos pela honestidade e generosos pela generosidade.
O verdadeiro bem é aquele praticado sem qualquer interesse, e unicamente por amor à Verdade.
Não há como negar que a ingratidão daqueles a quem ajudamos com sinceridade e carinho, abre feridas em nossos corações. Contudo, elas cicatrizarão mais rápido se compreendermos que aquilo que importa é a prática do bem, independentemente de quem tenha sido beneficiado por ela.
A nossa insistência em agirmos do melhor modo que pudermos, dar-nos-á a sabedoria necessária para não cairmos em novas armadilhas. Um dos atributos da bondade é a prudência.
Ela é presenteada por Deus ao justo, para que ele, sem perder a pureza, possa se defender dos aproveitadores e trapaceiros.
À medida que vamos progredindo moralmente, sentimos uma necessidade cada vez maior de melhorarmos a nós mesmos e de efetuarmos boas obras. O serviço aos outros torna-se um prazer.
A ação correta e a palavra honesta não são mais meios para se atingir o paraíso, mas sim partes desse paraíso, componentes fundamentais do nosso bem estar.
Quem ama o bem, não pode viver sem ele.
Quando pautamos de fato a nossa vida pelas virtudes, o sentido de estarmos vivos passa a ser o de sermos virtuosos.
Para quem ama servir, ser o servidor de todos é a maior satisfação que se pode ter. Não há outras além dessa.
O serviço a todos é o motivo maior da sua felicidade, e não a gratidão daqueles a quem serve.
Como diz uma frase de pára-choque de caminhão: "O bom não é ser importante; o importante é ser bom!".
Se os outros não compreendem a nossa vontade de ajudar ou não nos agradecem pelo auxílio que prestamos, isso não é razão para desanimarmos.
Ser bondoso não é ser considerado assim pelos outros, mas é seguir o chamamento espontâneo do próprio coração, que deposita toda sua esperança na oportunidade de prosseguir servindo sempre, e em nada além disso.
Ter bondade é ter a coragem de se dedicar integralmente ao bem, abrindo mão de toda recompensa...
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
TER BONDADE
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